Territórios digitais livres, datacenter comunitário e celebração no arrumadinho entre: Abrindo o Código #7 +MucuAção + FliSoL 2024 na Casa Tainã

Nos dias 26 e 27/04/2024 foi realizada de modo híbrido, uma ação de compartilhamento de conhecimentos sobre cultura e tecnologias digitais livres com foco na extensão e datacenters comunitárias. As pessoas que participaram online, o fizeram através da sala do Jitsi do NPDD (Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento Digital) da Rede Mocambos e as que participaram presencialmente na Casa de Cultura Tainã, em Campinas/SP.

No dia 26/04, estavam previstas duas rodas de conversa com os temas: 1) Territórios Digitais Livres; 2) Extensão Comunitária. Após apresentar a atividade para os dois públicos, Vince apresentou as instalações da Casa Tainã, mostrando alguns dos espaços. Aleḿ de espaços de reunião e oficinas, eles mostrou a infraestrutura do Datacenter Comunitário Livre.

Foto: Datacernter Comunitário, por Diego Rojas

Foi explicado que para manter um Datacenter como este, não necessária com essa pujança, seria: computador – Nobreak – Internet Banda Larga. Contudo, falou também da flexibilidade desse arranjo, sendo possível reaplicá-lo de acordo com as necessidades de cada localidade. Para otimizar o uso dos recursos físicos disponíveis, o Datacenter é administrado, a partir de máquinas virtuais. Algumas infraestruturas como aquela existem também em espaços como o da Unesp, do território Xavante e na Sicília, Itália.

Embora esta infraestrutura técnica estivesse sendo apresentada, Vince e TC enfatizaram durante as suas falas que o maior trunfo de um Datacenter comunitário é o compartilhamento de acervo e memória, preservados por grupos que entendem que faz sentido preservar falas, imagens, encontros e aprendizados. Através da Rede Mocambos as organizações podem guardar suas memórias nos próprios territórios ao invés de em Datacenters corporativos, muitas vezes operados fora do Brasil.

O léxico da Rede Mocambos está perpassado por uma taxinomia que reflete a Rota dos Baobás, que representa as relações simbólicas e afetivas que a partir da Casa de Cultura Tainã se espalharam Brasil afora, compartilhando e plantando mudas de baobá em diversos territórios. Esta árvore é carregada de significados na cosmovisão africana, considerada uma metáfora da vida, onde as raízes representam a ancestralidade e o tronco, galhos, frutos, representando o desenvolvimento da vida. Por isso o nome do Baobáxia (Galaxia de Baobás) e os nós da rede de acervos livres do Baobáxia sendo as Mucuas (fruto do Baobá).

Esta lógica é oposta a lógica individualista que a própria interface do computador já denota. Foi proposta uma gestão compartilhada e de diversos recursos, desde habilidades individuais até captação de recursos financeiros, sendo este necessário, mas não central ou fim último destas ações em rede. São muito mais ações de cuidado e compartilhamento.

Por fim alguns limites foram tratados como a continuidade de pessoas no projeto, captação de recursos e centralização dos processos em poucas pessoas, sendo sugerida maior distribuição das tarefas a partir do envolvimento dos presentes. A extensão universitária também foi citada como possibilidade para mobilizar recursos, puxando o gancho para o tema da roda seguinte.

Inicia-se então a roda sobre Extensão Comunitária que é a ideia de ter um modelo extensionista que seja pautado pela comunidade que a recebe e não somente pelas universidades. Alguns problemas estruturais do atual modelo extensionista foram relatados, como: este ser o elo que recebe menos investimentos na tríade ensino-pesquisa-extensão; o burocratismo das universidades; a rotatividade das estudantes; a carga-horária excessiva das professoras; o olhar da universidade para as comunidades como meros “objetos de estudo” ou “beneficiários”; desterritorialização das estudantes que muitas vezes vão estudar fora do seu território.

Na roda se afirmou a rejeição a este modelo e se mostrou como exemplo, a relação da Casa Tainã com os projetos de extensão universitária das universidades com quem se relacionam, cartas de intenções, apresentação da Tainã e diretrizes sobre como seria a parceria, foram relatadas, sempre com o território com autônomo e produtor das pautas. Foram relatadas experiências parecidas nos estados do Pernambuco e do Paraná.

Ao fim, foi colocado que todas as áreas são bem vindas e se pode utilizar as habilidades de alunas de ciências como as da saúde, da computação, da geografia e da antropologia, diante de uma demandas holística e produzida no cotidiano dos territórios.

O dia 27/04 foi dedicado ao sistema do Baobáxias, seu funcionamento e seus usos. Por ser um sábado ouve maior número de pessoas presencialmente na Casa de Cultura Tainã. TC começou saudando o pessoal com uma música. Logo depois Vince começa a falar das Mucuas e mostra um protótipo feito com a tecnologia da Tempo Eco Arte, coletivo do Mercado Sul de Taguatinga/DF, que reutiliza papel e saco de cimento, baseada e um minicomputador Raspberry Pi.

Vince fala da Rede Mocambos e da filosofia do software livre em compartilhar conhecimentos. Compartilhar softwares e também mudas de baobá. Falou também das trocas de conteúdo audiovisual que já aconteciam com CDs, DVDs e pendrives. Daí surgiu a ideia de criar uma tecnologia para a memória e acervo, o Baobáxia. Tecnologia como agregadora de pessoas que congregam dos mesmos valores, sem desviá-los, assim como faz o mundo corporativo.

Foram mostradas imagens do Baobáxia, mostrando fotos das pessoas trabalhando nos territórios nas Rotas dos Baobás. Compartilhar sementes, mas também histórias, cuidar dos conteúdos, que eles sejam de interesse comum, que faça sentido tendo o cuidado de entender como mesmo os conteúdos digitais ocupam recursos. O Baobáxia não tem propaganda interferindo no processo. A política de veiculação dos conteúdos é pautada pelos territórios.

Foi mostrada a nova versão do Baobáxia https://dev.baobaxia.net/pt-BR. que mantém a estrategia de armazenar os conteúdos em pastas e arquivos. Entre as novidades principais, tem a interface responsiva para otimizar o uso em celulares, a introdução de novas aplicações além do acervo, como blog e a possibilidade de manter os dados em repositórios independentes, flexibilizando o uso das mucuas. A tecnologia tem que ter a “caixa aberta”, o que facilita a verificação e resolução dos problemas. Perfil no GitLab para contribuir no desenvolvimento https://labmocambos.taina.net.br/. Além de manter uma lista de demanda e bugs (issues), a ferramenta ajuda a documentar e discutir o que é feito pra entender o porque das escolhas. Quem quiser somar na discussão e no projeto é entrar no grupo do NPDD do Telegram: https://t.me/NPDDMocambos.

Discutiu-se também a interligação do Baobáxia com outros acervos como os do Estúdio Livre e do iTeia através de protocolos como o Oauth https://en.wikipedia.org/wiki/OAuth e o Activity Pub https://pt.wikipedia.org/wiki/ActivityPub. Outra demanda foi a de organizar frentes de trabalho e alocar as pessoas com o desejo de fazer parte e as habilidades inerentes, foram elas: Desenvolvimento; Infraestruturas; Gestão; Design; Documentação e Comunicação.

No domingo as pessoas presentes na Casa de Cultura Tainã também trabalharam na no na tradução da nova versão do Baobáxia para a lingua Auwe (Xavante).

Links citados nos dois dias:

Filme “O Homem que Virou Suco” https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Homem_que_Virou_Suco

Projeto SL de Mapas desenvolvido pela Cooperativa de desenvolvedores Eita https://tonomapa.org.br/

Grupo brasileiro no Telegram sobre o NextCloud https://t.me/NextcloudBR

Cobertura fotográfica

Vídeos das atividades do dia 26/04

Vídeos das atividades do dia 27/04

Relatoria

Processo de construção coletiva

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